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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Lenda do Jequitinhonha




Lenda do Jequitinhonha

(E Romãozinho foi subindo, foi subindo)

E Romãozinho foi subindo, foi subindo e chegou na Meroaba de cima.

— Você viu a caipora?

— Não vi não.

E Romãozinho passou pela Bolandeira, cantando:

— Dom Pedro disse a Totonha sentado naquele beco que este rio Jequitinhonha é o rio do estrume seco.

Dom Pedro não era peco.

Dom Pedro disse a Totonha, Totonha disse a Pacheco.

Pacheco disse a Badico,

o burro contou à vaca,

a besta disse à perua

e a coisa saiu do beco

e se espalhou pela rua.

Este rio Jequitinhonha é o rio do estrume seco.

Quem me disse foi Joana que mora com seu Pacheco.

Você viu a caipora?

— Não vi não.

Nisto apareceu o amarelo empapuçado.

— Você viu Zeca?

— Que Zeca?

— Zeca Fedeca sem pé nem munheca.

— Valha-me, Nossa Senhora que este homem é Romãozinho!

Conheci pelo pé.

E Romãozinho foi cantando:

— Botei um circo no inferno pra as almas que estão penando se divertirem um pouquinho e se esquecerem do fogo.

Me visto então de João Bobo arremedo miriqui,

dou pontapés nos defuntos e o inferno faz:

quá-quá-quá e só se vê qui-qui-qui.

Quá-quá-quá. Qui-qui-qui.

As almas que estão sofrendo precisam se divertir.

Dou pontapé no esqueleto

me viro em menino-cobra faço careta

pra a morte passo a raspa no capeta

e o diabo faz:

quá-quá-quá

e a morte faz:

qui-qui-qui.

Quá-quá-quá,

qui-qui-qui.

— Você viu a caipora?

— Não vi não. (...)



Sosígenes Costa é poeta baiano, de Belmonte.

Este texto faz parte do livro Iararana, publicado em 1979, sobre lendas e o misticismo que envolvem o Jequitinhonha.

Belmonte é o município baiano onde o rio Jequitinhonha despeja no mar. Ou seja, é lá que está a foz do nosso rio.
Foz do rio Jequitinhonha em Belmonte

o mar o rio o mar....

DO blog do Banú
Fotos de NN

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