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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

MIDINHA DE SEU ZÉ GROSSO - UM CAUSO DE MARCULINO FIGUEREDO


"Um novo livro que deve ser lançado em junho de 2011 - Só de causos inéditos, esse é um."


.

MIDINHA DE SEU ZÉ GROSSO

Desde o tempo de menino,

de pega-pega e cirandinha,

desde o tempo de escolinha,

eu e Midinha de Zé Grosso,

nóis era quinem carne e osso,

nóis era um feijão com farinha.

Nos tempos de grupo escolar,

nóis andava era grudado!

Só estudava juntinho,

taliquá dois passarinho,

no mesmo ninho chocado.

Era um cochichamento no ouvido

com dengo no palavriado,

um namoro bem apalpado,

um correr de mão corpo a baixo,

carinhos que acende o faixo

no repuxar de decote.

Um chamego bem esfregado

que deixa o cabra alesado

com baba pelo cangote.

Eu nem via o tempo passar

naquele corruchiado.

Tendo midinha ao meu lado

o resto: Porta-me lá!

Mas um dia, olhando pra ela,

vi que o tempo tinha corrido

a menina tinha crescido

era uma moça, meiga e bela.

Mas Midinha era bem sisuda,

de personalidade forte.

Cismou de deixar o Norte

e foi pro sul estudar.

O badalo do meu coração

virou uma mão de pilão

que bate pra machucar.

E magoado eu fiquei

com a boca cheia de beijo,

andei com a faca e o queijo,

beliscando e não cortei.

E hoje eu ando a esmo

e um pecado me tortura:

Senti o cheiro da gordura

mas não comi do torresmo!

O tempo andou sem ter pressa,

machucando a minha ferida.

Mas chegou na vila, afinal,

uma carta da capital

e a notícia me foi trazida.

“Romilda Cipriano Imaculada!”

Era o nome que ela tinha,

pra mim era só “Midinha”

anunciando a sua chegada.

Nesse dia acordei cedo,

e com muito cuidado e zelo,

fiz barba, cortei cabelo,

comprei perfume importado.

Cheirava igual mão de parteira,

ia ser uma noite inteira

de chamego, amor e agrado!

E feito um pinto no lixo,

fui pra lá todo animado,

mas quando eu avistei ela,

me deu um frio na espinhela

que me deixou engasgado.

Os braços dessa grossura,

sem bunda e sem cintura,

tatuagem pra todo lado.

Um sotaque bem puxado

toda desapetrechada,

com a cacunda curvada

feito espinhaço de Olaria,

eu senti naquele dia

que a moça tinha mudado,

mas não vi nada de bom,

sem um brinco, sem batom,

sem aquele tom de agrado.

Cheguei meio descabriado

e quando ela me viu,

nem piscou e nem sorriu,

me deu um abraço apertado,

mais forte que o de Zé Grosso!

Descobri sem perguntar:

A fruta do meu paladar

ela come até o caroço.

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