"Um novo livro que deve ser lançado em junho de 2011 - Só de causos inéditos, esse é um."
.
MIDINHA DE SEU ZÉ GROSSO
Desde o tempo de menino,
de pega-pega e cirandinha,
desde o tempo de escolinha,
eu e Midinha de Zé Grosso,
nóis era quinem carne e osso,
nóis era um feijão com farinha.
Nos tempos de grupo escolar,
nóis andava era grudado!
Só estudava juntinho,
taliquá dois passarinho,
no mesmo ninho chocado.
Era um cochichamento no ouvido
com dengo no palavriado,
um namoro bem apalpado,
um correr de mão corpo a baixo,
carinhos que acende o faixo
no repuxar de decote.
Um chamego bem esfregado
que deixa o cabra alesado
com baba pelo cangote.
Eu nem via o tempo passar
naquele corruchiado.
Tendo midinha ao meu lado
o resto: Porta-me lá!
Mas um dia, olhando pra ela,
vi que o tempo tinha corrido
a menina tinha crescido
era uma moça, meiga e bela.
Mas Midinha era bem sisuda,
de personalidade forte.
Cismou de deixar o Norte
e foi pro sul estudar.
O badalo do meu coração
virou uma mão de pilão
que bate pra machucar.
E magoado eu fiquei
com a boca cheia de beijo,
andei com a faca e o queijo,
beliscando e não cortei.
E hoje eu ando a esmo
e um pecado me tortura:
Senti o cheiro da gordura
mas não comi do torresmo!
O tempo andou sem ter pressa,
machucando a minha ferida.
Mas chegou na vila, afinal,
uma carta da capital
e a notícia me foi trazida.
“Romilda Cipriano Imaculada!”
Era o nome que ela tinha,
pra mim era só “Midinha”
anunciando a sua chegada.
Nesse dia acordei cedo,
e com muito cuidado e zelo,
fiz barba, cortei cabelo,
comprei perfume importado.
Cheirava igual mão de parteira,
ia ser uma noite inteira
de chamego, amor e agrado!
E feito um pinto no lixo,
fui pra lá todo animado,
mas quando eu avistei ela,
me deu um frio na espinhela
que me deixou engasgado.
Os braços dessa grossura,
sem bunda e sem cintura,
tatuagem pra todo lado.
Um sotaque bem puxado
toda desapetrechada,
com a cacunda curvada
feito espinhaço de Olaria,
eu senti naquele dia
que a moça tinha mudado,
mas não vi nada de bom,
sem um brinco, sem batom,
sem aquele tom de agrado.
Cheguei meio descabriado
e quando ela me viu,
nem piscou e nem sorriu,
me deu um abraço apertado,
mais forte que o de Zé Grosso!
Descobri sem perguntar:
A fruta do meu paladar
ela come até o caroço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá,
Não publicaremos comentários ofensivos e que não estejam simetricamente em consonância com o artigo. Se preferir use o e-mail