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quarta-feira, 15 de junho de 2011

“porque nossos jovens têm vergonha da cultura popular do Vale do Jequitinhonha?”

Em recente visita à rede social do Instituto Vale Mais avistei uma discussão que muito me instigou e desde então estou a ruminar algumas ideias à respeito. Trata-se da pergunta, “porque nossos jovens têm vergonha da cultura popular do Vale do Jequitinhonha?”. Curiosamente, a questão não repercutiu com a devida importância. Apenas quatro pessoas, além da proponente, demonstraram interesse em debater o problema. Em todas as posições apresentadas aparecem pontos interessantes para se pensar sem, entretanto, tocarem naquilo que, ao meu modo de pensar, é o ponto central da questão. Acredito que o problema central não está no fato de os jovens sentirem “vergonha”, ou não, da cultura regional, sim no fato de não existir uma identidade cultural do vale que, por vezes, beira a total ignorância em relação aos bens e valores culturais de nossa região. Sendo assim proponho redefinir o escopo da discussão para a seguinte pergunta: “por que os jovens do vale não se identificam com a cultura popular do Jequitinhonha?”

A expressão cultura por si só já serve de entrada em qualquer discussão desse calibre. Ao falarmos em cultura pressupomos uma carga de valores e práticas derivadas da ação material do ser humano sobre a natureza e a sociedade. Nesse sentido, cultura não corresponde apenas aos bens artísticos que uma dada sociedade é capaz de produzir, mas sim produto de toda a atividade humana, e todo esforço intelectual de atribuir um sentido à totalidade desses produtos. Essa atribuição de sentido implica numa “generização”, isto é, a pressuposição de que aquilo que fazemos é além de valores individuais, mas também coletivos, comunitários e sociais. Assim sendo, a jequitinhonidade – termo cunhado por nós para nos referirmos ao conjunto das manifestações sociais do Vale – deve ser entendida como sendo o amálgama de todos os valores, e produtos artísticos, festas tradicionais, fatos sociais, modo de produção econômica etc. típicos de nossa região. Ao que tudo indica os jovens do Jequitinhonha participam das festividades – religiosas, juninas e as ditas profanas – além de por vezes reconhecer valor artístico em uma ou outra obra de arte produzida no vale.

Contudo, não me parece que a Elizângela Alves estava pensando nessa concepção de cultura quando propôs o debate e sim à produção de bens culturais, ou seja, artesanato, música, poemas, etc., se de fato era nisso que ela estava pensando, então, devemos redefinir novamente o escopo do debate e nos perguntarmos, “Por que os Jovens do Jequitinhonha não se identificam com os bens culturais produzidos no Jequitinhonha?”. Nesse sentido um dos inscritos no mencionado debate acredita que qualquer um, que quando um tirado a violeiro empunha uma viola nas mãos e, com delicadeza no olhar, dedilha Sabores Coloridos, Moças Bonitas não resistem e catam sim, nos Jardins de suas Fantasias as vontade, como passarinhos, miudinhas, na palma da mão, voando e com paz no coração. E nesse momento, esquecem do produto fonográfico pobre, que não passa de um modismo barato e supérfluo. Nesse Jequi existem muitos jovens que não precisam de nada além de estímulo.

De certo modo, Maiolino Thomaz tem razão. Se pensarmos que existem no Jequitinhonha muitos jovens engajados nos movimentos culturais, como atesta o FESTIVALE, tiraremos a prova que no Vale há sim jovens que se interessam pelos bens culturais da região. Porém, penso que não devemos remontar apenas aos já iniciados nos movimentos culturais e sim aos que estão apartados por inteiro das manifestações culturais, e esse são a maioria da juventude valeira. Nesse sentido, o poeta Cládio Bento apresenta uma posição certeira. Segundo ele, a massificação cultural [é] o grande problema que leva os nossos jovens a consumirem o lixo cultural que assola o país. Nossos artistas não estão na tela da tevê, o que vemos nas tevês abertas brasileiras é a banalização da cultura que influencia a juventude de maneira impactante. Há também o fato das pessoas terem vergonha de sua origem, levado principalmente pela situação econômica da região do Vale do Jequitinhonha, quase sempre tratado como vale da miséria pelos meios de comunicação.

Interessante também é a posição do Jotaerre, diretor do Instituto Vale Mais, para quem a resposta “é porque eles [os jovens] não conhecem a cultura do Vale. Eles estão envolvidos em outro mundo, o mundo da massificação, da globalização, muito bem arquitetada pelo sistema capitalista que, através da opressão cultural, domina qualquer povo e destrói qualquer cultura. Tem q. ser muito forte p/ enfrentar esse desafio, é muita responsabilidade p/ mudar. Não é fácil mudar quando não se tem recursos próprios e boa vontade. O problema não é só com jovens, tem adultos e idosos alienados também, é só procurar que você acha, inclusive na minha família ou na sua [...] . O problema está dentro da nossa casa. Não quer dizer que você. resolveu mudar, é que todos vão mudar também. Processo de mudança é lento, demora muito. Uma boa mudança estrutural, se faz em torno de 05 a 10 anos.”

As posições de Cláudio Bento e Jotaerre coincidem em seu conteúdo e apresentam a massificação como grande oponente da cultura popular. De forma alguma massificação é um conceito abstrato, mas sim uma determinação de um processo histórico, iniciado com o surgimento dos modos de vida típicos do capital, isto é, as culturas burguesa e proletária. Sem muito espaço para nos determos sobre esse ponto, nos limitamos apenas à apresentar a discussão, caso alguém queira aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto sugerimos o livro do professor de filosofia da UFMG, Rodrigo Duarte, de título, Indústria Cultural, publicado pela FGV. O Livro é de fácil leitura, além de ser uma ótima apresentação do surgimento da massificação cultural que mais tarde veio a culmina no que os filósofos alemães Adorno e Horkeimer denominaram por Indústria Cultural.

Retomando o mote da discussão: Acredito que a questão está em saber porque os jovens não se identificam com a cultura do Vale. Assim sendo a massificação cumpriu sim papel decisivo na evolução do problema. Não obstante, não se pode considerar massificação apenas como uma determinação exclusiva da produção de bens culturais. Sim como um fato social totalizador dos complexos sociais. Isto é, toda a vida contemporânea está, queiramos ou não, submetida ao processo de massificação. São quase inexistentes os âmbitos onde existe vida humana que já não tenha chegado o rádio, a televisão, o cinema ou internet, celular, jornais e revistas, Cd’s ou quaisquer outro produto inerentes à cultura de massas. Não pretendo soar como fatalista, por isso não acredito que os resultados sejam todos ruins. A cultura de massas também propiciou que em grande medida a cultura de talhe popular também se expandisse, como é o caso por exemplo do Jazz, ou mesmo dos Cd’s de cantores do Jequitinhonha, somente para apresentarmos dois dos muitos exemplos. Torna-se então patente saber se somos ou não capazes de assimilar a massificação com o refinamento de nossa fruição estética. Em outras palavas a autenticidade da cultura do Vale está à mercê de um refinamento de nossa sensibilidade para a apreciação da obra de arte.

Para não delongarmos mais no assunto ao pode de tornar a leitura massante, finalizamos este post com uma provocação: Qual o papel de militantes, movimentos culturais, redes sociais, professores, poetas artistas, dentre outros, na manutenção da autenticidade da arte do Jequitinhonha?


As partes em ítalico foram retiradas da discussão inciada na rede Vale Mais

Por ERIC RENAN

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